A década de 50 começa em clima de democracia, situação econômica favorável expressa em grande desenvolvimento industrial e tendências nacionalistas.
Segundo Edgard Luiz de Barros, houve uma cultura modernizante do modelo desenvolvimentista, potencializado, sobretudo na presidência de Juscelino Kubitschek, induzindo não só a comportamentos mais cosmopolitas, mas a um novo estilo de vida nas cidades brasileiras. Houve os chamados “anos dourados” da classe média, confirmando a extraordinária importância da mídia e da indústria cultural.
Entre os fatos importantes desse período: é inaugurada a primeira emissora de televisão do país (Tupi); houve a primeira Bienal de São Paulo; foi iniciada a construção de Brasília com a moderna arquitetura de Oscar Niemeyer; o Brasil vence o Campeonato Mundial de Futebol; acontece a inauguração do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro; na música, surge a Bossa Nova.
A indústria têxtil está a todo vapor, orgulhosa de suas exportações e da atividade fabril durante a guerra. Dentre seus principais produtos, o tecido de algodão merecia o maior destaque como explica Durand: ”(…) era a principal fibra nacional, matéria-prima geradora de divisas e de um pano bem adaptado ao clima quente do país”. (Durand, 1988 p. 67)
O desenvolvimento da indústria brasileira neste período é bem descrito por Zuleika Alvim ao falar do Mappin:
“O Mappin se inseria de forma nítida nesse esforço de afirmação da indústria nacional, algo que assume características ainda mais eloqüentes por assinalar uma ruptura com relação ao que a loja representava no passado (…) em suas primeiras décadas de existência, a loja oferecia basicamente, artigos importados. (…) O consumidor da década de 50, na verdade, ainda detinha um arraigado preconceito contra a indústria nacional. Não foi tarefa simples convencê-lo de que poderia extrair os mesmos rendimentos dos produtos fabricados no Brasil.” ( Alvim, 1985, p. 152)
Na moda, o marco da década de 50 foi o aparecimento de butiques e costureiros, sendo estes os fundadores de uma costura “de autor”, não colada nos lançamentos europeus. Gil Brandão aparece como o modelista mais famoso. Verificamos este fenômeno principalmente em Dener Pamplona de Abreu, que inicia sua carreira no Rio de Janeiro e depois muda-se para São Paulo. Ele foi estilista da primeira-dama Maria Tereza Goulart, esposa do então presidente Jango. Maria Tereza, para os brasileiros, concorria com Jacqueline Kennedy em beleza e elegância. Dener foi o primeiro costureiro a questionar sobre moda brasileira e freqüentemente gabava-se de ser ele o criador da moda nacional.
Dener, com seu trabalho e prestígio, favoreceu o aparecimento de outros nomes como Clodovil Hernandez, Guilherme Guimarães (autor do uniforme feminino da Marinha Brasileira) e, futuramente, Markito e Ney Galvão. ( Braga, 2003)
É o início da alta costura no Brasil, e onde surgem os primeiros questionamentos a respeito da autenticidade da moda brasileira, ou do que esta viria a ser. Nas palavras de Dener:
“a moda francesa dita a alta costura, enquanto a italiana influi nos modelos esportivos. Já a moda brasileira nasceu por necessidade climática (…) nossa moda é tropical, com tecidos leves e estamparias mais vivas”.(Dória, 1998, p. 131)
Intensificou-se a produção de revistas e jornais, que alcançaram uma tiragem nacional, com destaque para os colunistas de renome, que passam a exercer papel importante na divulgação dos fatos que envolviam a moda. Até então a moda tinha sido ditada pelas colunas sociais e pelo gosto pessoal das mulheres da alta sociedade, totalmente indiferentes à indústria nacional.
Alceu Pena foi um grande nome da moda nacional, ele ilustrava a revista O Cruzeiro com a coluna “As Garotas do Alceu”. Revista semanal esperada por todas as brasileiras para poder fazer em suas respectivas costureiras o que Alceu sugeria como moda. Criou roupas para os badalados concursos de Miss Bangu, patrocinados por essa indústria têxtil carioca. Gil Brandão aparece como o modelista mais famoso. (Braga, 2003).
A Bangu criou a ‘Miss Elegante Bangu’ para a promover os tecidos de algodão da empresa e a identidade nacional, numa época embalada pelos sonhos românticos de Hollywood, e em que os concursos de miss causavam comoção nacional.
Diante deste quadro, as grandes tecelagens, como a Matarazzo, a Bangu e a Cia Brasileira Rhodiaceta (que iniciou a produção de fios sintéticos no Brasil), precisavam promover a aceitação de sua produção para um público que, até então, menosprezava o produto nacional. Assim, passaram a convidar nomes da alta costura francesa, bem como costureiros brasileiros reconhecidos, para que estes apresentassem às sociedades paulista e carioca coleções com tecidos brasileiros. São grandes desfiles de modas promovidos pela indústria.
Em 1958, Caio de Alcântara Machado criou a Fenit, primeiro salão de moda a reunir matéria-prima, maquinário e roupa, assinalando o amadurecimento do setor. Nessa mesma fase, surge a imprensa de moda destinada aos profissionais.
De acordo com Joffily, no ano de 1959, Gil Brandão lançou nas páginas do Jornal do Brasil, os moldes prontos para roupa, propondo a popularização do uso de moldes com estilo.
Enfim, é na década de 50 que a moda eclode com uma profusão de eventos, fatos, com a realização de desfiles e os primeiros questionamentos a respeito de se criar uma moda brasileira.
Em âmbito geral, houve o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50 se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo “New Look”, de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias. (CLAUDIA GARCIA).